18 de mar. de 2012

Drummond




Publicado em 1945, A rosa do povo é o livro politicamente mais explícito de Drummond. É um poderoso olhar sobre a Segunda Guerra, a cisão ideológica, a vida nas cidades, o amor e a morte.Com sua beleza e profundidade, A rosa do povo traz um Drummond de vasto escopo temático. A personalidade do poeta, a família, o cotidiano e a História comparecem com inaudita força neste livro. Trata-se de um testemunho de suas ideias e afetos num momento da vida em que experimentava a maturidade e já começava a olhar para o passado enquanto captava, como poucos autores, os sinais confusos de seu próprio tempo.





Fala, amendoeira é uma reunião de crônicas originalmente publicadas no jornal Correio da Manhã, em que o poeta mantinha uma coluna desde 1954. Em texto introdutório, Drummond escreve uma espécie de tratado do gênero: “Este ofício de rabiscar sobre as coisas do tempo exige que prestemos alguma atenção à natureza - essa natureza que não presta atenção em nós. Abrindo a janela matinal, o cronista reparou no firmamento, que seria de uma safira impecável se não houvesse a longa barra de névoa a toldar a linha entre o céu e o chão - névoa baixa e seca, hostil aos aviões. [...]”. Porque a crônica vive em grande parte desses contrastes, daquilo que poderia ter sido (antigamente, num tempo ameno, na infância do autor, numa era de ouro) e aquilo que de fato é (a vida em cidades que crescem e se transformam desordenadamente, o próprio envelhecimento do autor, as atordoantes mudanças de costumes a cada passagem de geração). Não foi à toa que, à época da publicação do volume, Rubem Braga saudou o Drummond cronista.O Drummond de Fala, amendoeira é um dos grandes artífices da crônica. Injeta a medida certa de lirismo, é um observador astuto e mescla comentário com um pouco de ficção. Quanto à linguagem, estes textos são puro Drummond: calorosos e informais, suavemente cultivados e ligeiramente emburrado. Uma leitura sempre fluente e prazerosa.







Publicado em 1951, Claro enigma representa um momento especial na obra de Drummond. Com uma dicção mais clássica, o poeta revisita formas que haviam sido abandonadas pelo Modernismo (como o soneto, modalidade que fora motivo de chacota entre as novas gerações literárias), afirma seu amor pela poesia de Dante e Camões e busca uma forma mais difícil, mas sem jamais abandonar o lirismo e a agudeza de sua melhor poesia.A lira romântica de Drummond está bem afinada neste livro, como pode ser comprovado pela leitura de poemas como “Rapto” e “Tarde de maio”. A mineiridade também é lembrada no livro, em poemas vazados pela nostalgia ou que recontam episódios antigos da terra natal do autor.Claro enigma também conta com “A máquina do mundo” - eleito o melhor poema brasileiro do século XX por um grupo de críticos e especialistas consultados pelo jornal Folha de S.Paulo. Escrito em tercetos, é simultaneamente uma meditação profunda e uma espécie de épica íntima sobre a passagem do tempo e o conhecimento da vida como acontecimento breve e muitas vezes fortuito. Um clássico.












Drummond não escreveu muitos contos ao longo de sua carreira. Daí a importância de um livro como este Contos de aprendiz. Publicado originalmente em 1951 (mesmo ano de Claro enigma), o livro seria a primeira investida em larga escala do autor numa obra de ficção. Antes, publicara a pequena novela “O gerente” (que faz parte do volume) em uma modesta edição. Os temas dos quinze contos giram praticamente na mesma órbita de grande parte da poesia do autor: o memorialismo, o relato da vida acanhada no interior do Brasil do início do século XX, a observação do cotidiano mais miúdo, uma ironia gentil, a observação - despida de qualquer sentimentalismo - da inevitável passagem do tempo. Tudo arranjado com delicadeza e inteligência. Algumas das histórias reunidas neste volume se tornariam verdadeiros clássicos da ficção moderna brasileira, como “A salvação da alma”, “O sorvete” e “O gerente”, cativando ainda hoje leitores de todas as idades. Outras merecem ser conhecidas ou revisitadas, pois atestam a maestria de um autor cujos maiores recursos sempre foram a razão e a sensibilidade.
(SeR! - fonte: http://www.companhiadasletras.com.br/)

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